A bela cidade de João Pessoa sediou nos dias 14, 15 e 16 de setembro de 2018, o III Seminário Nordeste do Programa AMOR-EXIGENTE, de apoio às famílias e a todos que queiram se desvencilhar de comportamentos inadequados bem como envolvimento com drogas lícitas e ilícitas cujos danos têm causado sofrimento e desestruturação familiar no país.
Pablo Kurlander, Gestor Geral da FEBRACT, ministrou a palestra: ” Comunidades Terapêuticas – o que sabemos até agora”, mostrando que existe uma relação muito estreita entre Amor-Exigente e Comunidades Terapêuticas, uma vez que quando um dependente químico continua vinculado a grupos de apoio, ele tem muito mais chance de ter resultados positivos, aumentando o sucesso de seu tratamento.
Discorrendo sobre o Movimento de Luta Antimanicomial que teve início no Brasil na década de 80 e da Reforma Psiquiátrica que começou em 1987 quando foi lançado o Manifesto de Baurú, Pablo nos deixa uma pergunta: 31 anos depois, como é a realidade no Brasil?
Um município que tem uma pessoa com um transtorno psiquiátrico grave é encaminhado para onde? Até hoje, nossa rede é insuficiente.
O grupo que defende a Luta Antimanicomial diz que o problema da rede no Brasil é que o dinheiro é desviado para as Comunidades Terapêuticas. Porém, o governo começou a financiar as CTs de forma bem modesta apenas em 2013, 26 anos depois da Reforma Psiquiátrica.
Em 1990, 3 anos depois, começou uma redução de leitos em hospitais psiquiátricos numa cruzada puramente política e sem ter para onde encaminhar os pacientes.
Nesta época, o trabalho das CTs ainda era muito tímido. O Padre Haroldo há apenas 9 anos tinha iniciado o trabalho da APOT e alguns serviços religiosos tinham surgido há uma década em Goiás e no Paraná. Neste momento, então, começa a se desvirtuar o conceito de tratamento das Comunidades Terapêuticas no Brasil.
Todas as distorções que vieram em seguida e que são criticadas duramente foram criadas justamente pela má intervenção deste grupo.
Temos, então, uma divisão em dois segmentos: os grupos religiosos que começam a atender as pessoas carentes que deveriam ir para os hospitais e o movimento de internação involuntária que funciona, na maioria das vezes, de forma ilegal e irregular para aqueles que podem pagar pela internação.
No meio desse caos e na tentativa de resgatar aquilo que as CTs de fato eram, em 1990 Padre Haroldo Rahm funda a FEBRACT.
como devem ser as comunidades terapêuticas
Durante sua palestra, Pablo Kurlander explica que as CTs seguem as mesmas bases conceituais e metodológicas da Reforma Psiquiátrica:
É preciso autoavaliar o serviço de atendimentos, para entender o que funciona. E chega-se à conclusão de que o que mais funciona é quando o trabalho fica articulado com a rede formal: saúde, proteção social, trabalho, educação e também com a rede do Terceiro Setor, que são os grupos de apoio: Amor-Exigente, Pastoral da Sobriedade, Alcóolicos Anônimos, Narcóticos Anônimos e outros grupos.
Quando todos esses fatores se juntam, aumenta a eficácia do tratamento significativamente. Lembrando que a dependência química é uma doença crônica, não tem cura e recidivante.
Um problema generalizado em todas as áreas é que a dependência química é encarada como um problema de caráter e não de saúde. Algumas vezes quando isso acontece, o acolhido é “castigado” por sua recaída, porque entende-se (de forma errônea) que a pessoa “tinha escolha” entre recair ou não.
Outra coisa a ser observada com cuidado é, no momento de desespero em que a família se encontra quando busca uma internação para seu ente querido em uma Comunidade Terapêutica, é preciso avaliar bem o local para onde se encaminha o dependente químico.
Infelizmente, muitas comunidades que se autointitulam “Comunidades Terapêuticas” no Brasil de fato não o são e ainda prestam um desserviço à sociedade, com riscos sérios para o acolhido.
características de uma comunidade terapêutica
Para ser uma Comunidade terapêutica, algumas características devem ser obedecidas:
É preciso levar em consideração também que hoje as CTs não funcionam mais apenas com oração e trabalho. É necessário ter um projeto terapêutico que atenda os seguintes critérios:
Assista na íntegra a palestra ministrada por Pablo Kurlander: