Pesquisa revela como os adolescentes abusam do álcool

O consumo de álcool entre adolescentes surpreende cada vez mais.

Agora, é a Associação Brasileira de Estudos do Álcool e outras Drogas (Abead) que faz o alerta.

Uma pesquisa apresentada pela Abead revelou que os adolescentes entre 14 e 17 anos – que, pela lei, não deveriam ingerir bebida alcoólica – são responsáveis por 6% de todo o consumo anual de álcool no país.

Adolescentes e Álcool

Esse índice pode até não parecer alto, mas, segundo psiquiatras e neurologistas, qualquer quantidade ingerida nessa faixa etária pode comprometer as funções neurológicas do adolescente, além de antecipar o surgimento de doenças relacionadas ao consumo do álcool, como diabetes, cirrose e insuficiência cardíaca.

Subindo um pouco mais na escala por idade, a pesquisa aponta que os jovens entre 18 e 29 são responsáveis por 40% de todo o álcool consumido no país por ano. A pesquisa foi feita com base em levantamentos estatísticos de outros estudos e, por isso, não precisa qual seria a quantidade anual total de álcool ingerida no Brasil, segundo a Abead.

O presidente da associação e psiquiatra, Carlos Salgado, explica que os danos do álcool para o organismo do adolescente são maiores do que para o adulto, porque, até os 21 anos, o cérebro ainda se encontra em processo de amadurecimento. “Por causa dessa imaturidade do organismo, as toxinas conseguem modificar as estruturas cerebrais, afetando os neurônios e, consequentemente, a cognição”, diz.

Álcool altera química do cérebro de adolescentes

Ele defende, ainda, que não existe uma “dose mínima segura” para adolescentes: “Qualquer quantidade pode desencadear a dependência, em quem já tem propensão, ou provocar um retardo mental, levando a dificuldades de aprendizado, alterações de humor e problemas no trato digestivo, como estômago, intestino.”

O especialista em dependência química João Chequer Bou-Habib lembra que os testículos e ovários também são formados durante a adolescência e podem ser afetados pela ingestão do álcool. “O corpo do jovem, como um todo, está em transformação, e a alteração dessas transformações naturais pode levar a danos irreversíveis”, afirma.

Chequer ressalta, ainda, o problema social provocado pela droga. “As alterações comportamentais também são significantes. O jovem pode se tornar mais agressivo, ansioso, deprimido e até mesmo se isolar da família por causa do álcool”, diz.

Alteração de comportamento provocado em adolescentes pelo uso do álcool

Saúde em risco

Confira o que diz a pesquisa sobre o consumo de álcool no país por pessoas de diferentes faixas etárias:

Jovens: A pesquisa da Associação Brasileira de Estudos do Álcool e outras Drogas (Abead) apontou que os jovens entre 14 e 17 anos respondem por 6% de todo o consumo anual de álcool do país. Já os jovens de 18 a 29 anos são responsáveis por 40% do consumo.

Adultos: A população de 30 a 39 e 40 a 49 anos bebem, cada uma, 20% do total consumido no país.

Excesso: O excesso no consumo é evidente, visto que os jovens de 18 a 29 anos representam 22% da população do país. Ou seja, apenas 22% da população responde por 40% de todo o álcool consumido no Brasil. O levantamento aponta, ainda, que 5% dos bebedores brasileiros ingerem 27% de todo o álcool consumido.

Anúncios: A pesquisa também apontou que 7,6% da publicidade na televisão anunciava bebidas alcoólicas, o sexto produto mais divulgado. Além disso, 69% dos anúncios de álcool são exibidos nos intervalos de programas esportivos. Foram analisadas 420 horas de programação de canais abertos.

Álcool na mídia

Início: Em 2009, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) publicou uma pesquisa em que apontava que 70,7% dos alunos do 9º ano do ensino fundamental já haviam experimentado bebida alcoólica. Além disso, 24,6% haviam bebido nos 30 dias anteriores à pesquisa e 18% afirmaram já terem se embriagado.

70,7% dos alunos do ensino fundamental já experimentaram álcool

Beber desde cedo aumenta as chances de dependência

Além de afetar o desenvolvimento do organismo e das funções cerebrais, a ingestão de álcool por adolescentes pode aumentar as chances de dependência da droga. O que explica a maior dependência são, justamente, a “imaturidade” do organismo, que está mais apto a receber as alterações provocadas pelas toxinas, e o fato de o álcool ser consumido em grandes doses e rapidamente, para provocar o efeito da embriaguez.

Álcool e adolescentes: uma mistura que não dá certo

De acordo com o psiquiatra e presidente da Associação Brasileira de Estudos do Álcool e outras Drogas (Abead), Carlos Salgado, o cérebro, quando ainda não formado completamente, se “ajusta” mais facilmente às circunstâncias. “Isso também acontece quando acostumamos o organismo a consumir muito sal ou alimentos doces”, explica.

O clínico geral Eurico Schmidt explica que a dependência acontece, principalmente, entre os mais jovens e os que possuem parentes dependentes. “Os casos na família também estão associados ao desenvolvimento da dependência. Quando esses dois fatores se encontram, porém, os riscos aumentam ainda mais. E a única forma de evitar os riscos é não consumir a bebida, nunca”, alerta.

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40% dos jovens admitem que bebem e dirigem

Um dos efeitos mais desastrosos para a sociedade, sobre o uso do álcool por adolescentes, está no fato de muitos deles ainda misturarem bebida e direção. Para conhecer os hábitos dessa população à noite, o Departamento Estadual de Trânsito (Detran) realizou, em 2007, uma pesquisa em que 40% dos jovens capixabas afirmaram dirigir depois de beber. A pesquisa deverá ser feita novamente este ano, segundo a diretora técnica do órgão, Rosane Giuberti, e revela uma preocupação constante.

“Realizamos campanhas constantemente para inibir essa prática, mas as estatísticas ainda são claras em nos mostrar que a conscientização ainda não aconteceu por completo. Uma das instruções sempre passadas aos mais jovens é que eles não peguem carona com quem bebeu. Isso ajuda a conscientizar os que parecem ainda não se importar com os hábitos arriscados de vida“, explica.

Campanha de conscientização

No ranking das infrações mais cometidas em 2008, dirigir embriagado apareceu em oitavo lugar, perdendo para infrações que são mais facilmente flagradas e registradas, como exceder a velocidade, avançar sinal vermelho e dirigir falando ao celular.

Os jovens de 18 a 29 anos são, também, as maiores vítimas dos acidentes ocorridos em 2008, no Estado. Das 558 vítimas fatais, 29% eram jovens, assim como 39% das vítimas não fatais.

Perigo

12% embriagados
É o percentual de jovens que voltam para casa dirigindo mesmo sabendo que não têm condições de assumir o volante, segundo uma pesquisa do Detran em 2007.

Para muitos, consumo começa dentro de casa
Muitas vezes, por incrível que pareça, o consumo de bebida alcoólica começa dentro de casa. Em 2009, um portal de educação revelou, a partir de uma pergunta feita aos jovens, que 28% dos estudantes entre 13 e 17 anos haviam tido o primeiro contato com o álcool em casa. O problema se torna ainda mais grave quando são os próprios pais que incentivam a bebida.

Consumo de álcool incentivado pela família

“A cerveja e as bebidas destiladas com menos teor alcoólico ainda são consideradas socializantes. Os pais parecem se esquecer que é ilícito dar bebida alcoólica para menores de 18 anos e, em alguns casos, fazem isso achando que estão agradando os filhos”, diz o médico especialista em dependência química João Chequer Bou-Habib.

No ano passado, a Faculdade de Ciências Médicas da Unicamp também publicou um estudo em que 36,6% dos alunos de 10 a 12 anos que já haviam ingerido bebida alcoólica declararam já ter presenciado a mãe embriagada. “Se, para o pai, beber é um comportamento aceitável, para o filho também será”, diz o médico.

Mãe embriagada

OBID Fonte: A Gazeta