No CRATOD – Centro de Referência de Álcool, Tabaco e outras Drogas, em reunião do CONED, no último dia 31 de agosto, foram apresentados os resultados do “Levantamento do Perfil de Usuários de Drogas na Região da Cracolândia”.
Este foi um estudo realizado em maio de 2016 a pedido da Coordenadoria de Políticas sobre Drogas (COED) e da Secretaria de Desenvolvimento Social do Estado de São Paulo e contou com a colaboração da Consultora do Programa de Desenvolvimentos das Nações Unidas (PNUD), doutora Clarice Sandi Madruga.
Além de ser o primeiro estudo probabilístico sobre o perfil dos usuários frequentadores da Cena de uso da Luz, foi também a primeira contagem sistemática para a obtenção de uma estimativa precisa do número de usuários desta região.
Com este estudo, buscou-se dar seguimento ao estudo do perfil dos usuários desta região e também aprofundar o conhecimento de indicadores de vulnerabilidade social e uso de serviços socioassistenciais e de saúde.
Afim de avaliar o impacto dos serviços prestados a esta população é também importante monitorar a sua dimensão através de uma série histórica da estimativa do número de frequentadores.
Através de metodologias preestabelecidas de contagem e de entrevistas, os pesquisadores divulgaram as seguintes conclusões:
Aspectos sociodemográficos
- Como esperado, os indicadores sociodemográficos dos frequentadores da Cracolândia refletem uma população predominantemente sem ocupação ou renda e com baixo nível educacional e bastante religiosos.
- A população feminina dobrou (de 16.8% para 34.5%).
- A maioria dos frequentadores encontra-se há pelo menos 1 ano sem atividade ou renda.
- De forma geral observou-se uma piora destes indicadores em relação ao levantamento realizado em 2016.
- Os resultados comparativos também mostram uma diminuição da prevalência de transgêneros e o aumento de frequentadores que moravam na cidade de São Paulo.
- Destaca-se o fato de as mulheres terem grau de instrução maior do que os homens e estarem mais capacitadas para o mundo do trabalho.
Aspectos de vulnerabilidade social
- A maioria dos entrevistados vive na rua da região da Cracolândia há muito tempo, com a maior parte frequenta a Cracolândia há 1 ano ou mais.
- Grande parte deles vieram da casa de seus familiares antes de permanecerem na região, com esta proporção tendo aumentado entre 2016 e 2017.
- A maioria referiu nunca ter estado em situação de rua antes de ter o consumo de drogas agravado.
- Mais da metade dos frequentadores referiu viver e dormir na Cracolândia na maioria das noites (menos de 1 em 10 vem somente para comprar droga).
Aspectos de rede de suporte social
- Quase metade dos usuários não tem mais contato com sua família, e a maioria nunca voltou para o círculo familiar depois de começar a frequentar a região.
- O índice de usuários que perdeu contato com a família aumentou entre 2016/2017. Ainda assim, a família é a referência mais citada quanto questionados sobre com quem contar em situações de emergência.
Aspectos do consumo de substâncias
- Nem todos frequentadores da Cracolândia são usuários de crack. 15% deles são apenas usuários de álcool e a maioria é poliusuário (crack + cocaína aspirada + álcool). 13% dos entrevistados declararam não usar crack, cocaína ou álcool.
- Houve uma diminuição no consumo de heroína. A pequena proporção de usuários (0.8%) referiu usar heroína nas formas fumada e injetada (na maioria mulheres). Mais de um terço dos entrevistados já perdeu a consciência e/ou precisou de serviço de emergência em função do consumo.
- O consumo precoce de maconha foi um dos fatores mais associados com indicadores de uso de alto risco.
Aspectos de Saúde
- Embora os índices de DST’s sejam altos, a maioria dos frequentadores já foi testado e o índice de tratamento dentre os contaminados é altíssimo (de 70% a 90%).
- Apenas metade refere usar algum tipo de método anticoncepcional (a minoria das mulheres)
- Quase uma a cada quinze mulheres frequentadoras da Cracolândia estão grávidas.
- Devido ao consumo de drogas perinatal elas apresentam altos índices de problemas na gestação.
aspectos da diferença de gênero
- Ainda que em menor quantidade que homens entre os frequentadores da região, as mulheres apresentam, consistentemente os piores índices nos indicadores de saúde, de vulnerabilidades e de exposição à riscos.
- Elas referem mais abuso físico ou sexual na infância, citam o abandono da família como razão por frequentar a região e sofrem mais com violência física dentro do fluxo.
- A maior parte das mulheres troca dinheiro ou drogas por sexo e faz sexo desprotegido.
- Adicionalmente, o uso de drogas injetáveis também é mais prevalente entre mulheres.
Veja abaixo os gráficos desta pesquisa: