Exame de imagem cerebral revela por que a dependência de cocaína é tão difícil de curar
Dependentes de cocaína frequentemente percebem que a droga é muito menos agradável depois de alguns anos de uso, mas têm grande dificuldade de parar de usá-la.
Um novo exame de imagem cerebral mostra por que isso realmente pode ocorrer, e também por que a terapia de extinção pode não ser eficaz para os usuários de cocaína.
O estudo, liderado por pesquisadores da Icahn School of Medicine no Mount Sinai, em Nova York, descobriu que, em usuários de longo prazo da droga, há comprometimento global do córtex pré-frontal ventromedial, uma região do cérebro que está relacionada com os impulsos e o autocontrole.
“Os dados do nosso estudo sugerem que será difícil para os usuários de longa data desaprender o que já foi uma experiência positiva, se esse ‘desaprendizado’ ou novo aprendizado depender dessa região cerebral para ser efetivo”, disse em um comunicado à imprensa a pesquisadora responsável Anna Konova, PhD, que trabalhou no estudo enquanto estava na Icahn School of Medicine, mas agora está fazendo pós-doutorado no Center for Neural Science,na New York University.
“Há um forte entusiasmo pela terapia de extinção para o tratamento das dependências químicas, mas nossos achados destacam as possíveis limitações dessas terapias existentes em sua dependência do córtex pré-frontal ventromedial para obter os benefícios terapêuticos”, acrescentou a pesquisadora sênior Rita Z. Goldstein, PhD, diretora do Mount Sinai’s Neuropsychoimaging of Addiction and Related Conditions Program.
O estudo foi publicado on-line em 5 de setembro no periódico Addiction Biology.
Por meio de ressonância nuclear magnética funcional (RNMf) e de um paradigma clássico de condicionamento trifásico, os pesquisadores examinaram os correlatos neurais do aprendizado de extinção para associações entre as drogas e sinais de prazer e o papel do córtex pré-frontal ventromedial em 18 usuários de cocaína de longa data que não procuravam tratamento, e 15 controles hígidos pareados em termos sociodemográficos e que não usavam drogas.
O aprendizado de extinção é um processo pelo qual uma nova associação afetivamente neutra substitui uma associação antiga com conteúdo afetivo e excitante.
Os pesquisadores observaram que os usuários de cocaína de longo prazo tiveram dificuldade para formar e manter as novas associações de estímulos que antes eram, embora não o fossem mais, preditivos de desfechos relacionados e não relacionados com drogas, e que esse comprometimento foi mediado pelo córtex pré-frontal ventromedial.
Os sinais do córtex pré-frontal ventromedial no grupo utilizando cocaína não se assemelharam aos do grupo controle.
O aprendizado de extinção não mobilizou o córtex pré-frontal ventromedial no mesmo grau, o que poderia resultar em falha do aprendizado de extinção, dizem os pesquisadores.
“Nosso ponto de vista a esse respeito é de que a terapia de extinção provavelmente não será efetiva para o tratamento da dependência de cocaína quando utilizada isoladamente ou em sua forma mais tradicional”, disseram os pesquisadores ao Medscape.
“Isso deriva de nossos dados, que mostram um déficit no circuito neural que dá suporte a esse tipo de aprendizagem. Além disso, observamos esse déficit em dois contextos, relacionado ou não com drogas, sugerindo que não é provável que funcione na maioria dos quadros”.
“No entanto, acreditamos que, se a terapia de extinção for associada a outros tratamentos ou com potenciadores cognitivos, poderia ter utilidade para o tratamento da dependência de cocaína. Além disso, formas modificadas da terapia que aproveitam a ciência por trás de métodos de extinção mais robustos também podem ter alguma utilidade. Mais pesquisas são claramente necessárias para testar essas abordagens adicionais”, concluíram os pesquisadores.
O estudo foi financiado pelo National Institute of Drug Abuse. Os autores informam não possuir conflitos de interesses relativos ao tema.
Addiction Biol. Publicado on-line em 5 de setembro de 2017



