Alessandra Diehl, Vice-Presidente da ABEAD (Associação Brasileira de Estudos do Álcool e Outras Drogas), fala sobre a FEBRACT e Comunidades Terapêuticas.
A história das CTs tem inicio na Synanon, uma comunidade autossuficiente de dependentes químicos em recuperação, em 1958 em Santa Mônica, na Califórnia. Daí, progressivamente foram surgindo outros centros com características e algumas peculiaridades distintas em inúmeros países. No Brasil, a primeira CT fundada foi a Fazenda do Senhor Jesus, em 1978, na cidade de Campinas, no interior de São Paulo, através do trabalho realizado pelo religioso americano padre Haroldo Rahm.
As CTs podem ser definidas como ambientes residenciais livres de drogas, voltadas para a reabilitação psicossocial. Em outras palavras, trata-se de um ambiente de intensa interação social entre seus pares, nos quais as pessoas com problemas de dependência química convivem de forma organizada e estruturada para promover uma profunda mudança em seus estilos de vida, livres de drogas, enquanto recuperam a sua saúde física, retomam valores pessoais e sociais outrora invertidos durante o uso ativo de álcool e drogas. Também são ambientes de resgate de autoestima, dignidade, amor próprio, ajuda ao próximo e uma visão mais realista sobre si e sobre sua própria família. O objetivo específico é tratar o transtorno individual, mas com o propósito mais amplo de transformar estilos de vida, com busca da honestidade pessoal e resgates de projetos de vidas pessoais esquecidos e perdidos. A comunidade terapêutica como método social é destinada a ajudar os indivíduos num compromisso absoluto com a mudança de si mesmo.
Cuidados contínuos são necessários para manter a recuperação que foi iniciada durante o tratamento na CT. Alguns estudos revelaram que a prestação de cuidados, aliada à combinação do tratamento em CT e subsequente cuidado posterior, tem gerado melhores resultados quando a rede de assistência trabalha de forma integrada e de forma eficiente. Realidade essa que no Brasil é basicamente incipiente e muito falha. Esses equipamentos, na contemporaneidade, desafiam o destino de seus protótipos históricos. A CT é uma experiência em desenvolvimento contínuo que vem reconfigurando os “ingredientes de tratamento” e de formação das comunidades de mútua ajuda em uma metodologia sistemática de transformação de vidas. Apesar da longa e mundial disponibilidade do tratamento do modelo de CTs, muitas delas sobreviveram com poucos ou nenhum investimento público.
No Brasil, as CTs são regulamentadas pela RDC 101/01 e pela RDC 29/11 da ANVISA. Aqui, considera-se que as CTs financiadas pelo plano nacional sigam o rigor de suas normativas, fiscalizações e aprimoramentos adequados. O fato de que elas foram incluídas na RAPS não significa que todos os pacientes devem se tratar utilizando essa modalidade, mas sim que ela será mais uma das possibilidades existentes, o que é muito louvável. Destaca-se a importância da fiscalização para que funcionem de acordo com os Direitos Humanos e com as normas técnicas promulgadas, as quais incluem a presença de equipe multidisciplinar, a possibilidade de uso de medicação e o fato de ser um tratamento predominantemente voluntário. Assim, estão longe de serem locais “manicomiais” e muitas delas prestam um valioso trabalho no resgate de vidas e histórias de sucesso.
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